Renata Mendonça - @renata_mendonca Da BBC Brasil em São Paulo
06/02/2016
Uma rodinha de homens em volta de uma mulher, que
só pode sair dali após beijar todos; uma "gravata" no pescoço e a moça
só pode se desvencilhar depois de "pegar" o autor do golpe; um puxão
de braço ou cabelo para "atrair" a foliã e roubar um beijo. Atitudes
como essas poderiam ser vistas como assédio ou abuso no dia a dia - mas são
comuns no Carnaval. Recentemente, porém, grupos de mulheres se uniram para
combatê-las e promover uma festa com respeito ao "direito de
escolha".
"Não é para acabar a pegação. É só para ter
respeito", afirma Lia Marques, uma das criadoras da campanha “Apito Contra
o Assédio”, que distribui apitos para mulheres nos blocos de São Luiz do
Paraitinga, um dos maiores carnavais do Estado de São Paulo. "Sou super a
favor da pegação, desde que as duas pessoas envolvidas queiram. [...]",
diz Renata Rodrigues, cofundadora do bloco Mulheres Rodadas, do Rio.
O instituto “A Mulherada”, que surgiu em 2001 em
Salvador, o bloco “Mulheres Rodadas”, fundado no Rio de Janeiro em 2015, e a
campanha “Apito Contra o Assédio”, lançada no início deste ano por três jovens
em São Luiz do Paraitinga, são exemplos de grupos criados para defender os
direitos da mulher. Eles usam o carnaval para abordar questões como a violência
doméstica e sexual, assédio e machismo. [...]
Coadjuvantes
Em
Salvador, por muito tempo, mulheres participaram como "coadjuvantes"
do Carnaval: dançavam e desfilavam nos blocos, mas tinham pouco espaço para
tocar. "Começou há 15 anos com o objetivo de incluir as meninas na música
de Salvador, nas bandas percussivas. Naquela época estourou a Timbalada, o
Olodum, mas as meninas não podiam tocar. Os homens diziam que não era coisa de
mulher", contou Mônica Kalile, presidente-fundadora do bloco “A Mulherada”,
que [...] começou com 100 percussionistas do sexo feminino, que comandaram a
bateria do bloco. O trabalho continuou com aulas de percussão, dança afro e
inclusão digital ao longo do ano, mas elas descobriram uma grande dificuldade
no meio do caminho: manter as mulheres frequentando o instituto após o
Carnaval.
Isso acontecia porque muitas sofriam pressão - e
até violência - dos maridos e das famílias, que diziam que tocar era coisa de
"mulher macho". Foi aí que surgiu a campanha "Tocar pode, bater
não", realizada até hoje para conscientizar o público sobre violência
doméstica. "As meninas vinham e depois sumiam, e aí fomos investigar.
Muitas das mulheres sofriam violência em casa dos maridos, ou eram lésbicas e
sofriam preconceito da família", disse Mônica.
[...]
#Somostodasrodadas
No
Rio, uma foto de um jovem segurando um cartaz "Não mereço mulher
rodada" viralizou em dezembro de 2014 após ter sido publicada em um grupo
no Facebook. O ato provocou revolta entre mulheres, que responderam com a
hashtag #somostodasrodadas e fizeram
nascer um bloco de Carnaval. O bloco agrupou 3 mil pessoas na rua, entre
mulheres "rodadas", homens, crianças e senhoras. "A ideia era
fazer uma brincadeira com o machismo, com o rótulo, que de maneiras mais ou
menos graves limitam nosso cotidiano", disse Renata Rodrigues, que fundou
o bloco junto com Debora Thome. [...]
Apito contra o assédio
Lia
Marques tem 25 anos e diz que nasceu pulando carnaval. Natural de São Luiz do
Paraitinga (SP), cidade de carnaval tradicional à base de marchinhas, ela
frequenta os blocos de rua desde cedo, mas ultimamente tem se incomodado cada
vez mais com as "chegadas agressivas" dos homens na rua. [...]
Com
outras duas amigas, ela decidiu distribuir apitos para as mulheres nos blocos
da cidade, para que façam barulho quando se incomodarem com eventuais
abordagens abusivas de homens. As jovens fizeram reuniões com a Polícia
Militar, que ajudará a fiscalizar os casos durante os blocos. "Quando os
caras ouvirem isso (o apito), eles já vão saber que agora vai ser
diferente", diz Lia.
"Acho
que é importante a informação. Porque o assédio é uma cultura, eles acham que é
normal, estão acostumados com isso. Mas ações como essa vão ajudar as pessoas a
entender como isso é falta de respeito."
http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/02/160126_carnaval_mulheres_assedio_rm
Um comentário:
Bom texto !
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