Gonçalves Dias |
Ana Amélia |
“Minha
terra tem palmeiras
Onde
canta o sabiá...”
Quem
não conhece os versos da Canção do Exílio?
O
seu autor, Gonçalves Dias, é um dos maiores poetas brasileiros de
todos os tempos.
Antônio
Gonçalves Dias nasceu no sítio Boa Vista, a 14 léguas da vila de
Caxias, em 14 de agosto de 1823. Seu pai, José Manuel Gonçalves
Dias, era português; sua mãe, Vicência Ferreira, era cafuza (filha
de negro e índia). O senhor José Manuel abandonou Vicência e
casou-se com Adelaide Ramos de Almeida, levando o menino Gonçalves
Dias para seu novo lar.
Em
1838, após a morte do pai e antes de completar seus 15 anos,
Gonçalves Dias foi enviado para estudar em Coimbra, Portugal. Em
1840 ingressou na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra.
Sua madrasta teve dificuldade de custear seus estudos e mandou que
Gonçalves Dias voltasse a São Luís.
“Mas
João Duarte Lisboa Serra, tendo conhecimento da situação de
Gonçalves Dias, convidou-o para morar em sua companhia, e seus
colegas Alexandre Teófilo de Carvalho Leal, Joaquim Pereira Lapa e
José Hermenegildo Xavier de Morais dispuseram-se a ajudá-lo na
despesa de seus estudos” (Café História).
Só
voltou ao Brasil em 1845, depois que se formou.
Foi
em Portugal que ele escreveu a Canção do Exílio e outros poemas
que fariam parte do seu primeiro livro: Primeiros Cantos (1846).
Escreveria
ainda outros livros de poesia, como Segundos Cantos, Os Timbiras,
algumas peças e estudos etnográficos.
Gonçalves
Dias foi o nosso primeiro poeta nacional; o criador do herói
indígena como o maior representante da nossa brasilidade.
O
amor por Ana Amélia
Mas,
por ter traços negros e indígenas, por ter uma mãe cafuza e
humilde, Gonçalves Dias foi vítima de preconceito.
Tinha
23 anos, quando, em 1846, apaixonou-se por Ana Amélia Ferreira do
Vale, então com 13 anos, cunhada de Alexandre Teófilo, amigo que o
ajudara a se manter em Portugal.
Escreveu
para ela os poemas Seus olhos e A leviana:
Seus
olhos tão negros, tão belos, tão puros,
De vivo luzir,
São meigos infantes, gentis, engraçados
Brincando a sorrir.
De vivo luzir,
São meigos infantes, gentis, engraçados
Brincando a sorrir.
[...]
Seus
olhos tão negros, tão belos, tão puros,
Assim é que são;
Eu amo esses olhos que falam de amores
Com tanta paixão.
Assim é que são;
Eu amo esses olhos que falam de amores
Com tanta paixão.
(trecho
de Seus olhos)
És
engraçada e formosa
Como a rosa,
Como a rosa em mês d'Abril;
És como a nuvem doirada
Deslizada,
Deslizada em céus d'anil.
Como a rosa,
Como a rosa em mês d'Abril;
És como a nuvem doirada
Deslizada,
Deslizada em céus d'anil.
(trecho
de A leviana)
Em
1852, pediu Ana Amélia em casamento. A mãe de Ana Amélia, dona
Lourença Ferreira do Vale, autoritária e preconceituosa, se opôs
ao casamento. Ana Amélia não aceitava as razões de sua mãe e
estava pronta para desobedecê-la e fugir com Gonçalves Dias. Porém,
o poeta temeu o escândalo, desistiu de Ana Amélia e, no mesmo ano,
no Rio de Janeiro, casou-se com Olímpia Coriolana da Costa.
Ana
Amélia ficou profundamente revoltada com a “covardia” do poeta.
Mais tarde, contra a vontade de sua mãe, a moça se casou com o
negociante Domingos da Silva Porto, “que parecia escolhido a dedo
por ela” para dar uma lição à sua própria família e a
Gonçalves Dias, pois, segundo as informações de Antônio Henrique
Leal, o escolhido de Ana amélia estava “nas mesmas desfavoráveis
condições de origem e de nascimento” e para a realização do
casamento foi necessária a interferência da Justiça. Dona Lourença
considerou a filha morta desde esse dia, mandando tocar, nas igrejas,
os sinos de finados no dia de seu casamento.
O
marido de Ana Amélia faliu fraudulentamente e, para evitar a prisão,
embarcou para Portugal junto com a esposa. Naquele país chegaram a
passar privações.
Em
Lisboa, em 1855,Gonçalves Dias encontrou-se ocasionalmente com Ana
Amélia. Apressou-se a falar com ela, feliz por vê-la e poderem
conversar intimamente. Gonçalves Dias ficou surpreso com a atitude
de Ana Amélia, que se recusou a cumprimentá-lo, permanecendo
distante e silenciosa. Ela jamais o perdoaria por não a ter levado
de casa e se casado com ela, a despeito da oposição da mãe.
O
resultado triste desse encontro transparece num dos mais famosos
poemas de Gonçalves Dias: Ainda uma vez – Adeus:
I
Enfim
te vejo! — enfim posso,
Curvado a teus pés, dizer-te,
Que não cessei de querer-te,
Pesar de quanto sofri.
Muito penei! Cruas ânsias,
Dos teus olhos afastado,
Houveram-me acabrunhado
A não lembrar-me de ti!
Curvado a teus pés, dizer-te,
Que não cessei de querer-te,
Pesar de quanto sofri.
Muito penei! Cruas ânsias,
Dos teus olhos afastado,
Houveram-me acabrunhado
A não lembrar-me de ti!
[…]
IV
Vivi; pois Deus me guardava
Para este lugar e hora!
Depois de tanto, senhora,
Ver-te e falar-te outra vez;
Rever-me em teu rosto amigo,
Pensar em quanto hei perdido,
E este pranto dolorido
Deixar correr a teus pés.
[...]
V
Mas que tens? Não me conheces?
De mim afastas teu rosto?
Pois tanto pôde o desgosto
Transformar o rosto meu?
Sei a aflição quanto pode,
Sei quanto ela desfigura,
E eu não vivi na ventura...
Olha-me bem, que sou eu!
VI
Nenhuma voz me diriges!...
Julgas-te acaso ofendida?
Deste-me amor, e a vida
Que me darias — bem sei;
Mas lembrem-te aqueles feros
Corações, que se meteram
Entre nós; e se venceram,
Vivi; pois Deus me guardava
Para este lugar e hora!
Depois de tanto, senhora,
Ver-te e falar-te outra vez;
Rever-me em teu rosto amigo,
Pensar em quanto hei perdido,
E este pranto dolorido
Deixar correr a teus pés.
[...]
V
Mas que tens? Não me conheces?
De mim afastas teu rosto?
Pois tanto pôde o desgosto
Transformar o rosto meu?
Sei a aflição quanto pode,
Sei quanto ela desfigura,
E eu não vivi na ventura...
Olha-me bem, que sou eu!
VI
Nenhuma voz me diriges!...
Julgas-te acaso ofendida?
Deste-me amor, e a vida
Que me darias — bem sei;
Mas lembrem-te aqueles feros
Corações, que se meteram
Entre nós; e se venceram,
Mal
sabes quanto lutei!
[...]
XVI
Dói-te de mim, que t'imploro
Perdão, a teus pés curvado;
Perdão!... de não ter ousado
Viver contente e feliz!
Perdão da minha miséria,
Da dor que me rala o peito,
E se do mal que te hei feito,
Também do mal que me fiz!
[...]
XVI
Dói-te de mim, que t'imploro
Perdão, a teus pés curvado;
Perdão!... de não ter ousado
Viver contente e feliz!
Perdão da minha miséria,
Da dor que me rala o peito,
E se do mal que te hei feito,
Também do mal que me fiz!
Gonçalves
Dias morreu aos quarenta e um anos de idade, a 3 de novembro de 1864,
no naufrágio do navio Ville Boulogne, nas costas do Maranhão,
próximo à vila de Guimarães. Foi o único da tripulação que
morreu no naufrágio, desaparecendo no mar, sem ter avistado, pela
última vez, as palmeiras onde cantavam os sabiás. Mas sua poesia o
coloca, nacional e universalmente, entre os maiores poetas de sua
época.
A
originalidade de Gonçalves Dias está na escolha de seus heróis. E
os buscou nas florestas brasileiras, no verdadeiro povo americano
acuado, ameaçado e perseguido pelos invasores europeus, mas que, a
despeito de todas as vicissitudes, agiam com altivez e bravura.
Gonçalves
Dias julgava-se no dever de defender os índios do massacre
que vinham sofrendo desde a chegada dos portugueses ao Brasil.
Ele considerava os índios os donos da terra, e esta ideia a defendeu
com toda a eloquência de suas palavras. Não só nos versos de
Y-Juca-Pirama, da Canção
dos Tamoios, do Canto do
Guerreiro, como também em seus trabalhos etnológicos.
Falando
dos índios, nas Reflexões sobre os Anais Históricos do Maranhão
por Bernardo Pereira de Berredo, ele dizia:
“Em
espaço de quarenta anos se mataram e se destruíram por estas costas
e sertões mais de dois milhões de índios e mais de quinhentas
povoações, como grandes cidades, e disto nunca se viu castigo”.
Fontes:
Gonçalves
Dias. Wikipédia. In:
Gonçalves Dias {1823-1864}. Café História. In: http://cafehistoria.ning.com/group/o-espirito-das-epocas/page/16-gon-alves-dias-1823-1864
Poemas
de Gonçalves Dias disponíveis em várias páginas da internet.
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